Agora que fiquei velha, bem velha, e estou esperando o grande mistério da vida chamar-me para dançarmos a nossa derradeira canção, e finalmente a minha vida fazer algum sentido, resolvi contar a história de um velho homem, o meu pai, por ser a únicadas minhas conhecidas que achei que valesse a pena deixar escrita e registrada, ainda que em muitíssimas poucas linhas.Poderia eu, muito bem, contar-lhes a minha própria, mas, como ainda vivo – ou já quase morro – envergonhar-me-iam alguns episódios. Então, à falta de outra vida, conto a do meu velho pai. Não que a goste tanto, posto que poderia ter sido vivida melhor, mas me atrai o suficiente para gastar os meus últimos esforços com essas reminiscências.Ao final e ao cabo, hoje, o meu corpo está bem debilitado, pela idade, pelo cansaço e, especialmente, pela melancolia de ter quase chegado ao fim sem que nada tenha feito sentido, ao menos seriamente. Apenas o fim, como dito. Este sim, o fim! É o verdadeiro e único sentido de nossa existência e, sobretudo, de nossos enormes fracassos e de nossas pírricas vitórias.De um certo modo, ou em um certo sentido, a morte dignifica- -nos como alguém que um dia viveu a vida. Sem ela e sem a sua sempre incômoda iminência, nada faria sentido. Rigorosamente nada. Viver a vida é viver a dolorosa espera pela morte. Essa louca e desesperada espera pelo nada. Aquela que, finalmente, irá nos redimir dos erros e nos gratificar pelos eventuais acertos (não deveria ter escrito isso: meu pai não o ter
Peso: | 0.136 kg |
Número de páginas: | 110 |
Ano de edição: | 2020 |
ISBN 10: | 8536293810 |
ISBN 13: | 9788536293813 |
Altura: | 21 |
Largura: | 15 |
Comprimento: | 1 |
Edição: | 2 |
Idioma : | Português |
Tipo de produto : | Livro |
Assuntos : | Literatura Marginal |
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